sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Interior da Casa Azul [Frida]



muito cedo percebeu que não lhe faltariam promessas nem desgraças. amores escusos, rompantes estranhos, faziam parte do seu atestado pessoal para lidar com a cegueira dos outros. fingir que o que via não existia. sua amadora existência gostava de olhar para o fundo das pessoas. quão rasas se tornavam se ao mexer forte, o fundo libertasse o que lhes restava de alma. sua saudável loucura, têmpera levada, deveu-se ao fato de alegarem seu nascimento.
então nasceu.
alheia sem saber a quem se pertencia. talvez isto explique sua alternada visão sobre tempo. revestida, pintou mais de um olhar seu muito preto. apreciava pés, mãos, pássaros e pincéis. estimulava sempre, que se demorasse mais o olhar sobre seu lado opaco. talvez porque todo aquele que é de destino brilhar, que bom uso fará? nunca puniu suas manias: amou todas as quinquilharias desse vasto velho osso mundo.
sempre houve um algo mais que lhe traía. quando a desejavam muito, fingia e compreendia assim: nada é tão mais absurdamente poderoso e apaixonante quanto a imaginação dos outros.
assim ela conseguia ser apenas o que só ela entendia e tudo o que ninguém mais quereria.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Volta aqui, Mariaaaaaaaaaaaaaaaaaa! [Nunca, Nunca Mais]





a pouca roupa o torto corpo abrigando azêdo aquela sua alma franzida aos pedaços no meio do caminho tanta pedra e um sol assando cada sonho vencido pela nuvem desbotada de um canto de olho que nem castanho era mais tão aquecido pelo tom que o vermelho com muito choro afoga entre as pernas exaustas de tanto dar sem vontade pelas pradarias e pelos cantos largados da casa velha sem telhado firme que aguente o amor jogado sem jeito aos trancos entojado de si mesmo fitando o que lhe assombrava na vida com seu melhor olho estreito dando de rir soltando fumaça pelo resto do caminho ela ia que ia se embora partida descalça e livre