terça-feira, 7 de abril de 2009

quando eu falo de amores que só você [me] conhece


tem tanta coisa que passeia de mim em você.
tem tanto da gente que amo em você.
meu artista favorito.
meu príncipe sem conto, sem truques, sem nada.
palavra a palavra, eu sei que deixo você sério, assim, calado, quieto e desenhado.
perfeito é o nosso quadro
juntos
cavalgando Barcelona
explorando as estreitas vielas de Salamanca
encontrando os velhos traços de arte catalã
o verbo bardo
a incógnita que rege todo fardo
esse viver inconsequente,
sem pressa,
desejando que os bons deuses alimentem-se
apenas do que nos castigue divinalmente a alma
e que sem dó
nos reinvente
que sejam inclementes
como quando criaram noite a noite
dia a dia.

O Interior da Casa Azul [Frida]

muito cedo percebeu que não lhe faltariam promessas nem desgraças.
amores escusos, rompantes estranhos, faziam parte do seu atestado pessoal para lidar com a cegueira dos outros. fingir que o que via não existia.
sua amadora existência gostava de olhar para o fundo das pessoas. quão rasas se tornavam se ao mexer forte, o fundo libertasse o que lhes restava de alma.
sua saudável loucura, de uma têmpera levada, deveu-se ao fato de alegarem seu nascimento.
então nasceu.
alheia, sem saber a quem [se] pertencia. talvez isto explique sua alternada visão sobre tempo.
revestida, pintou mais de um olhar seu muito preto. apreciava pés, mãos, pássaros e pincéis. estimulava sempre, que se demorasse mais o olhar sobre aquele seu inesperado e reluzente lado opaco.
talvez porque todo aquele que nasce com receio de brilhar, que bom uso fará?
nunca puniu suas manias: amou todas as quinquilharias desse vasto velho osso mundo.
sempre houve um algo mais que lhe traía.
e quando a desejavam muito, fingia e compreendia assim:
nada é tão mais absurdamente poderoso e apaixonante quanto a imaginação dos outros.
assim, ela conseguia ser apenas o que só ela entendia e tudo o que ninguém mais quereria.

Vida, Idas e Iras

como se já não nos bastasse as cores frias
com que essa noite esdrúxula insiste em colorir jardins
(parcos sonhos)
ainda tenho que entregar-me a ti.
para o quê ?
devias ver o que vai dentro em mim.
sou cheia tanto quanto a garrafa tinta do vinho que me ofereces.
e o amabile rosso dessa noite serás tu
a me tentar,
convencer que teu amor incenso queima.
é para sempre.

pensa. pensa bem enquanto ferves.
porque as dobras na minha pele não são
tenras
uvas
nem frescas.

que o suor nesse risonho rosto que apelava ao fogo por um beijo teu
não te devassa mais.
ou pouco.
ou tão menos
que a vedete da esquina na televisão black and white,
é um apelo que o teu sexo não rejeita.

para quando vais resolver a aceitar
que o vento é o único senhor e dono da chama ?
quando o amor chega ao fim, meu caro
é o caso de desligar o som e explodir assoalhos.

é o caso de até,
chamar médico
pais-de-santo
e outros pasquins
até restabelecer a desordem roubada.

um coração não aguenta tanto quebra-quebra
não consigo entender o que você fala
pára de contar aos outros sobre o quanto me amou
com quantos carnavais tivemos fantasias e felicidade !
meu querido ex amado amor
escuta,
bate a porta - fecha tudo a cadeado...
não é feio gritar.

*publicado na trigésima leva da revista cultural Diversos Afins
(
http://diversos-afins.blogspot.com/)