sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Você por você mesmo ou de onde vim por onde andei...tenho rastro?

na dúvida, ainda queimo noites.
é fato.

arranho paredes
escrevo
fuço
converso
sereno ânimos
e continuo ventríloco do mundo imaginário de onde a palavra foge bem dita
ecoando, ecoando...
até alcançar os jardins dos incansáveis.

Manoel de Barros, meu poeta de passarinho, beira de rio, passagem escondida, trilha e outros carinhos.
o imortalizado e moço, Machado de Assis, seu licor de aniz, do mais puro veneno.
soletrado trás pra frente,
como em um brinde,
vinde ler e ver o velho verso,
do meu Fernando Pessoa[l] e íntimo.
de pijamas

ao meu lado
longas noites feitas com horas de frio e verão.
em meio a flores de alcaçuz, eu leio passeando minhas idas por todos os Eles e Elas,
de tudo até mais e mais e um pouco.
até me derreter ou ficar cheia como lua,
invadida por esses homens
tantos
que me acordam noite a noite
sob o mais puro enlevo que há nesse tipo de açoite,
por essas tantas mulheres Clara, Clarice, Cecília,Florbela, Alice, Marina,
que embriagam

me mastigam tão bem.
e salvando-me,
todos
Eles & Elas
mantêm-me longe dos que vivem "poeticamente" promíscuos entre isto, aquilo e a tal da ignorança.
os que edificam suas pontes em poesia para falar sobre bundas e seus derivados.
poupem-me.
eu sou leitora.
parte de mim geme por candelabros
e alguma luz
para os que não conseguem
ler
ver
ler
ver


enfim.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ela é gauche sim

"Frida, blond and birds"
escultura em papier marché da série Mi Frida* by Val Freitas


nada a fazer exceto assistir à solenidade da tarde caindo soberba sobre a cidade engolindo pensamento leveza e solidão. estaria ela pensando ainda naquele desenho esponjoso de vida não fosse a própria, interrompida assim, abruptamente.
ia mudar-se.
sentia náuseas pelo novo que fatalmente estava em seu caminho. exato como uma cigana velha previra em uma multifeira sobre acasos.
sabe como quando passa um carro por sobre um corpo magro pobre e triste...? assim.
porque só a alimentaram com mazelas em pequena, ela não concebia chamas azuis ou qualquer outra variedade no preto.
ou ainda um tom a mais na voz que lhe caísse bem e fosse macio, alegre por poupar-lhe diafanamente da sua precária, mas nunca sem graça devassa ou pudica vida.
ela ainda tinha seus próprios pássaros e com eles voava sempre aonde quisesse ver. os olhos estavam avariados, é bem verdade. culpa das tais cores distintas que sombrearam sua vida, mas não ceifaram a sua interna extensa medonha, e por que não, lúdica visão de mundo.
o único homem que amou - sabe-se que fora amor - falecera de propósito vítima do egoísmo mais antigo na humanidade - amara tanto a ele e só a ele mesmo - que nunca notou a pálida existência delazinha.
agora que completara quarenta e alguns anos com todos aqueles incríveis cardápios de dia-a-dia lacrimejados ano após ano, faria o que bem quisesse como sempre quis.
não saberia dizer ainda para onde ou com quem e não se quebraria com porquês.
estava pronta há muito com toda aquela vidazinha bem distribuída em pequenas e desengonçadas malas.
finalmente faria uso irrestrito dos melhores sorrisos colecionados ao longo de reveillons desde 1980.
para entender-se com qualquer brecha de vazio fantasiou-se outra vez de mulher sensual, aquele tipo que planejava ser, reunindo o máximo da alma levada àquele corpo pequeno, magricelo e endurecido pelo tempo,
desafiando-se a ficar muito sexy no seu único melhor vestido de lycra estampadinho pago em prestações nada suaves.
em meia hora embarcaria em um ônibus por 36 horas, para a cidade dos sonhos.
nunca mais seria um esse número ôco transeunte e infeliz.
que venha a cidade e uma nova ela.
totalmente gauche é a vida.

[e cada um a seu modo, temo o dito.]

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ele


ele me borda.

se assombra com o que eu sonho
como se sonhar não fosse dele.

ama toda minha conversa
me inspira lantejoula,
miçanga, fita, babado
e claro, fuxico.

eu vivo só pra contrariar o gosto dele.
pra adulterar o cheiro dele.
pra enganar seu paladar.

pra ele eu solto cabelo
alças
laços
e desfilo.

por ele eu corro mais de muitos quilômetros
pra chegar desarvorada,
atrasada,
sem sangue no rosto safado,
descalça
cheia de vida
e nua.

o que amo está nele
e a maioria já tocou,
viu, sentiu, percebeu.

esse homem tem a alma misturada.
coisa meio vintage,
retrô, vanguarda,
sei lá.

como eu,
está entregue às buscas.
com toda a carga que transporta a alma
de quem é mix e ainda precisa ser sério,
profissional, único.


Loucos são seres Lourenços.

[porque nunca é nada, tudo jamais será
um vão.]

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Declaração número três mil e mais uns, sob chuva

eu amo pouco
vôo baixo
sem confusão.

não acredito em coisas escritas.

eu acredito assim:
quando leio
o que você diz.

e que você crê
no que vê em mim...
ela olhando para ele quase invisível

[adoro esse nosso silêncio]

sobre séries

1. da série "por que não vou assim?"

um passo só pode levar muito mais tempo que a caminhada inteira.
tudo é questão de entender-se com os pés.
outras vezes, com os saltos dos sapatos que criam caso.
e na maioria delas, a coisa toda
é com a gente mesmo.


2.
da série "caminhos que desinvento without support of the National Geographic ou Val Freitas, pela madrugada sonâmbula, vagando."
[sua opinião por favor]

eu?
eu aposto no absurdo!
[ trust me ]


3. da série "muito, quase tudo eu já sei, obrigado."

eu acredito
indefinidamente
até quando duvido
muito
com força
de toda
essa minha fé.

creio ainda
que por isto
resisto


4. da série "o amor todo feito em rosa pra mim, não me cabe"

porque o tal de amor é mesmo assim.
bem simplesinho.
sem frescura.
e muito,
mas muito rápido.

passa que você nem vê.
[tchau]


5.
da série "falando, falando, com paredes"

ah esse sol que só grandes
nomes
seres
momentos
saudades
nos trazem
meio de vanguarda
meio sem medo
e sobre nada
nada
a gente cresce
vai ouvindo histórias
e acaba descreditando
o amor

é.
é só.
isso mesmo.


6. da série "minhas coisas & Frida"

Eu estou em movimento.
Se entende o que isto significa,
compreende então meu passo,
minha pressa,
essa minha alma corrida.


7.
da série "tá , eu entendo sim"

eu aceito é tudo o que vem de você.
a pressa
a mudança
o garrancho
o rabisco
o sonho duradouro
e até o tolo poema que aceitar corromper
tua música incessante
sempre inacabada
meio sem sinfonia mesmo.

porque entendo brilhantes,
compreendo alguns segredos.
e há mesmo
essa verdadeira urgência,
uma nossa soberana essência...
M U D A R.


8. da série "qualquer coisa que lhe diga..."

os tons de cinza trazem equilíbrio, você sabe.
[sabe, não sabe?]
a partir de cada um deles,
compreendemos as intenções do azul, do vermelho, do laranja, do preto, do branco, dos tons claros, dos tons fortes, precisos, os exóticos...
[por que estou falando isto mesmo...? lembra...?]



Para o lado de cá eu sempre pulo. e se fujo, mordo.

eu preciso de uma cor mansa.

alguém a viu nascer.
disseram-me que pelas bandas de lá
mais perto do continente
quem sabe seguindo a esmo
como quem benze lua

essa tal cor mansa...
que cor salvou e tem?

não,
não me tragam qualquer cor.
precisa ser esta:
mansa
recém nascida
pode vir obsoleta
redonda
quadrada
estranha,
eu não ligo!

eu só preciso amansar.
dizem que essa cor faz milagres.
alguém a viu nascer?

da série Cores Mordidas

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Quase Tudo

eu sei que o mundo
vasto mundo
já nos dizia raimundo
é tão intenso
que caberia na palma de nossas sonhadas,
espantadas,
acanhadas mãos.

no entanto
eu,
que sou sempre a mesma folha ao vento
seja calor, venha tempestade
prefiro pensar que um pensamento
apenas um deles,
dos nossos,
vale a ida
com a vida em verso,
e mais uma volta
por esse mundo inteiro
que nos dou.

e quase tudo
que se pareça
s a u d a d e
abraça a tua mais serena lembrança...
e
viver nunca foi tão fácil,
nem tão fúcsia.
viver, todos nós, para o que nos for destinado ver.

folhas raras
todos somos cada um
e entre nós,
ainda nascerão muitos.

e depois que cada um passar por nós,
serão estes,
os mais guerreiros
os mais atentos e os mais aflitos,
os nus, totalmente despidos
que herdarão nossos olhos
e com sorte,
com toda boa sorte,
nosso indefectível modo de amar
TANTO
TUDO
SEMPRE.

*para Jorje Elias Fecuri Neto*

Da série Amigos Que Não Prescrevem Jamais...