terça-feira, 9 de setembro de 2008

Maria da Lua Cismada

[ ou uma mulher cheia de cacarecos ]

Que defende teses e mais teses sobre sexo, amor, ódio, paixão e outras parafernálias. Anda pela Ilha numa saia de chita ostentando um sorriso muito branco. Diz que o melhor do dia é caçar um meio de caminho. Tem sete pontes pelo coração. Todas com nome.
Maria é mesmo da lua cismada. Tem uma têmpera machadiana que não entende nada sobre olhar incolor. Foi batizada com um redemoinho bem no alto da cabeça e ama do mesmo tamanho o tudo e o nada.
Gosta de contar que o centro da sua cabeça é um enigma, coisa assim, sem explicação. Que o mandou benzer, lua e meia, sete noites, pra quando o passado a invocar, ela poder colidir sem medo das núpcias.

Ê Maria!

O Tempo

Para lá do jardim
Há o velho caminho batido.
E vai desde o que vejo
Até onde penso
E avança

do you know where's your love, all mighty ?

Deixaria um bilhete. Curto. O mais curto possível. Algo como "estão por aí, as suas chaves". Nada disso. Precisava de uma frase ainda mais curta e tão cortante quanto o caso entre eles. Acabara e ponto. Era preciso criar o tal bilhete curto. Precisava inventar o que escrever.
Circulou pelo apartamento com as chaves nas mãos. Olhou os detalhes do quadro de um pintor desconhecido que detestara. Sentou-se no chão e rastreou... Até perceber solidão ao pé da mesinha onde os livros preferidos dele sempre ficavam largados. Caminhou até lá e deixou as chaves sobre o primeiro livro. Memoria de mis putas tristes.

(do you know where's your love, all mighty ?)

Crime em Cabo Branco

Hoje
Atropelei versos
Chutei para o alto
Alguns verbos
E aprendi palavrões.

Um dia de horóscopo para Madalena

É que a loucura me invadiu logo no batismo. O padre disse: essa vai ser pagã. E assim venho regendo a desconstrução pelo mundo.


Não sei se me faço entender, Madalena. Não quero que você me explique nada. Mas solta esse cabelo e escova mais os dentes. Mostra o sorriso barroco. Seja ancestral, Madalena! Faça conta, que o que realmente conta, são nossas tranças que não param de crescer. Lembra daquele menino bonito de olhos tão cegos? Tropeçou numa jabuticaba e foi ficando roxo pra vida. Sem enfeite algum. Assustado. Madalena, ninguém tem culpa de você não ser apenas assim.

O Absolutismo Verde

Parecia um poema
Mas era só mais uma árvore.
Urbana e Caduca
Coagindo chão.

Caçada.

Achei aquela tua roupa perdida.
Uma calça
Uma camisa
E uns fios
Desse meu cabelo
Suicida
Entre os lençóis.

Vivo.

A Anistia do Adeus.

Não há verbo.
Há o meu olhar
Oferecendo asilo ao teu
Torto, desavisado e casmurro.
Espalhado sobre a mesa,
Como pão.

It could be Chagall

P o r q u e n a p e l e é m a i s p r o f u n d o ?

Tenho um canto contra luz
Um clarim na noite
Um céu que também arde
E essa lua tímida.

Sobre Poesia

Desistir do ócio
Aceitar viver em chamas
Todo tato, se me enruga, vira página.

Tenho alma errante
escassamente farta
cheia de prefácios

Como poesia de rodapé
sou curta
pequena
cismada