“empine sua sina, até que o olhar ganhe soltura e fuja alto. libere o alazão e cumpra assim, a viagem...” [Val Freitas]
o cotidiano não me entristece, não. o que me aperreia é a rotina aprisionada nas horas, a repetição entre os homens, mesmice de todas as coisas. sofro dessa pasmaceira absoluta, é um caso muito meu de cansaço, que sem cura, prescreve.
já tentei ver melhor o mundo. espiei por janelas, espiei por vigias. e olhe, o mundo pode mesmo parecer estreito, mas que há fronteiras, há. e há mais de um destino também. e outro gosto, que é esse de ir além de onde se está. de ir buscar o coração onde ele nunca esteve antes, compreende? depois, é seguir viagem. mantendo o olhar espalhado, sabe como?
não acho que uma alma tendendo às escuras, seja cega, não. falte a ela talvez, o barulho de sapatos com alguma direção nos pés. eu sempre guardo um e outro pecado que é pra o caso de o céu não existir. e reinvento os meus afetos. os braços da poltrona preferida, a janela se confessando pra rua enquanto não olho. sou sujeito de poucos murmúrios, de fala miúda e um certo olhar avarandado. me perdoe quando acho graça bem no meio da frase, mas tenho mesmo esse riso branco e um lírio muito pálido, que ora por mim todo santo do dia, querendo que meu olhar confesse que eu mesmo, sozinho, não me absolvo nunca.
eu já vi de perto o medo, sim. e ele estava sempre acompanhado de gente. agora, por essa altura da idade, olhando assim, bem esticado, posso alcançar pra muito mais longe e creio sim, que o céu é o que existe, mas não na nossa coloração, não. e eu quase compreendo, meio tardemente - é fato, que quase tudo que é mistério envolve o amor. e tudo disso, me comove.
4 comentários:
ah! você, hem? postando na calada da noite. sorte minha que estou sempre olho em você, minha irmã em armas. beijo grande!
lindo tudo aqui...relido tbm...bjocas.
Li, reli e treli seu post.
Muito bacana, bem pontuado. O mais engraçado é que estava pensando neste tema ainda no dia de hoje.
Seu blog é poesia e cheio de vida.
Voltarei mais vezes
bjo
Ao dissolver em água, seu texto certamente tornaria-se multiplas frases, multiplos versos de valor sem medida.
Belo uso de palavras e idéias, com essa linguagem saborosa que lembra, talvez pelo título, tanto o Rosa.
Volto sempre!
Postar um comentário