domingo, 11 de outubro de 2009




eu sou muito tudo
do que tenho a dizer.

-como nos livros-

me atrapalham as margens

se-estreitas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

flowers or just lies

eu gosto de mentiras.
[algumas caem bem]

- eu não amo você.
- não sinto sua falta.
- não me importa se não liga pra saber como vai a minha vida.

-eu vivo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

diariamente [ou isto foi um diálogo]

[vento. trovões. relâmpagos]

1. você sempre sabe como é

me catar lá do fundo.
sempre segue minha pista.

2. isso não quer dizer que entendo qualquer coisa sobre descaminho.
sim, tenho dedos treinados, é verdade.
gosto de amaciar desalinhos
e esse seu cabelo tão cheio de nó

3. já tenho tantos
são tantos cadarços soltos
dessa minha falta de tato
esse gostar de ir sem sapato
sou erva sem cheiro, sem mato
assim é que é

4. "porque nem só ave voa, né"
como você diz.
então eu olho alto
pra todo galho

5. você não entende [risadas]
sobrevoei muitas vezes o mesmo dia

não tenho mais jeito
assumo o pássaro acanhado.
um a mais por esse estressado céu

7. psssssssssssss...
já te pedi para treinar o silêncio.
um minuto
considere...

8. que agora sou uma espécie de GPS
que vejo muito mais para além do mapa
e mantenho em vista sua última localização:
é mesmo muito longe o horizonte de quem nunca se acaba.

[ beijo. chove forte.]

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Curvas Concretos Quadris

[a quem interessar possa]

aqui
arranho minhas paredes.
desnutridas
tal qual algumas unhas,
não tem uma cor cintilante.

eu sôo simples.

terça-feira, 30 de junho de 2009

break



eu sempre me perturbo

procurando os intervalos das coisas mais lindas

provar o quanto ando presente em tua calçada

meio fio a fio

terça-feira, 7 de abril de 2009

quando eu falo de amores que só você [me] conhece


tem tanta coisa que passeia de mim em você.
tem tanto da gente que amo em você.
meu artista favorito.
meu príncipe sem conto, sem truques, sem nada.
palavra a palavra, eu sei que deixo você sério, assim, calado, quieto e desenhado.
perfeito é o nosso quadro
juntos
cavalgando Barcelona
explorando as estreitas vielas de Salamanca
encontrando os velhos traços de arte catalã
o verbo bardo
a incógnita que rege todo fardo
esse viver inconsequente,
sem pressa,
desejando que os bons deuses alimentem-se
apenas do que nos castigue divinalmente a alma
e que sem dó
nos reinvente
que sejam inclementes
como quando criaram noite a noite
dia a dia.

O Interior da Casa Azul [Frida]

muito cedo percebeu que não lhe faltariam promessas nem desgraças.
amores escusos, rompantes estranhos, faziam parte do seu atestado pessoal para lidar com a cegueira dos outros. fingir que o que via não existia.
sua amadora existência gostava de olhar para o fundo das pessoas. quão rasas se tornavam se ao mexer forte, o fundo libertasse o que lhes restava de alma.
sua saudável loucura, de uma têmpera levada, deveu-se ao fato de alegarem seu nascimento.
então nasceu.
alheia, sem saber a quem [se] pertencia. talvez isto explique sua alternada visão sobre tempo.
revestida, pintou mais de um olhar seu muito preto. apreciava pés, mãos, pássaros e pincéis. estimulava sempre, que se demorasse mais o olhar sobre aquele seu inesperado e reluzente lado opaco.
talvez porque todo aquele que nasce com receio de brilhar, que bom uso fará?
nunca puniu suas manias: amou todas as quinquilharias desse vasto velho osso mundo.
sempre houve um algo mais que lhe traía.
e quando a desejavam muito, fingia e compreendia assim:
nada é tão mais absurdamente poderoso e apaixonante quanto a imaginação dos outros.
assim, ela conseguia ser apenas o que só ela entendia e tudo o que ninguém mais quereria.

Vida, Idas e Iras

como se já não nos bastasse as cores frias
com que essa noite esdrúxula insiste em colorir jardins
(parcos sonhos)
ainda tenho que entregar-me a ti.
para o quê ?
devias ver o que vai dentro em mim.
sou cheia tanto quanto a garrafa tinta do vinho que me ofereces.
e o amabile rosso dessa noite serás tu
a me tentar,
convencer que teu amor incenso queima.
é para sempre.

pensa. pensa bem enquanto ferves.
porque as dobras na minha pele não são
tenras
uvas
nem frescas.

que o suor nesse risonho rosto que apelava ao fogo por um beijo teu
não te devassa mais.
ou pouco.
ou tão menos
que a vedete da esquina na televisão black and white,
é um apelo que o teu sexo não rejeita.

para quando vais resolver a aceitar
que o vento é o único senhor e dono da chama ?
quando o amor chega ao fim, meu caro
é o caso de desligar o som e explodir assoalhos.

é o caso de até,
chamar médico
pais-de-santo
e outros pasquins
até restabelecer a desordem roubada.

um coração não aguenta tanto quebra-quebra
não consigo entender o que você fala
pára de contar aos outros sobre o quanto me amou
com quantos carnavais tivemos fantasias e felicidade !
meu querido ex amado amor
escuta,
bate a porta - fecha tudo a cadeado...
não é feio gritar.

*publicado na trigésima leva da revista cultural Diversos Afins
(
http://diversos-afins.blogspot.com/)


quarta-feira, 11 de março de 2009

da série Depoimentos.

eu já sei que existem cantos, becos, vielas e guetos que é pra onde se esconde o céu quando quer fugir daquela coisa parada do paraíso. e um dia desviando-me das centelhas e caminhos que eu vislumbrei nos olhos atentos das filhas, encontrei mais uma chama incandescente e felina.
era ela.
a menina.
aquela coisa toda fogueira sem a banal vaidade que cerca sempre uma pequena fortaleza que desfalece se apenas se nutre da própria beleza.
e justo eu que sou nau e observo,
atesto que para além da beleza, há nela um lado gentileza, que absorve os textos que a gente escreve como quem exercita um seu caderno de imagens. e ela escolhe as pessoas é pelo assovio. ou como o vento lhe chamar.
não percebeu?
então você não ouviu.

da série "Coisas que se descobre nu"




quando começo a criar

qualquer objeto

alguma coisa

puro afeto


a parte boa de mim

renasce devagar


sem pressa de chorar

avisar que veio ao mundo


esquisito... né?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Você por você mesmo ou de onde vim por onde andei...tenho rastro?

na dúvida, ainda queimo noites.
é fato.

arranho paredes
escrevo
fuço
converso
sereno ânimos
e continuo ventríloco do mundo imaginário de onde a palavra foge bem dita
ecoando, ecoando...
até alcançar os jardins dos incansáveis.

Manoel de Barros, meu poeta de passarinho, beira de rio, passagem escondida, trilha e outros carinhos.
o imortalizado e moço, Machado de Assis, seu licor de aniz, do mais puro veneno.
soletrado trás pra frente,
como em um brinde,
vinde ler e ver o velho verso,
do meu Fernando Pessoa[l] e íntimo.
de pijamas

ao meu lado
longas noites feitas com horas de frio e verão.
em meio a flores de alcaçuz, eu leio passeando minhas idas por todos os Eles e Elas,
de tudo até mais e mais e um pouco.
até me derreter ou ficar cheia como lua,
invadida por esses homens
tantos
que me acordam noite a noite
sob o mais puro enlevo que há nesse tipo de açoite,
por essas tantas mulheres Clara, Clarice, Cecília,Florbela, Alice, Marina,
que embriagam

me mastigam tão bem.
e salvando-me,
todos
Eles & Elas
mantêm-me longe dos que vivem "poeticamente" promíscuos entre isto, aquilo e a tal da ignorança.
os que edificam suas pontes em poesia para falar sobre bundas e seus derivados.
poupem-me.
eu sou leitora.
parte de mim geme por candelabros
e alguma luz
para os que não conseguem
ler
ver
ler
ver


enfim.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ela é gauche sim

"Frida, blond and birds"
escultura em papier marché da série Mi Frida* by Val Freitas


nada a fazer exceto assistir à solenidade da tarde caindo soberba sobre a cidade engolindo pensamento leveza e solidão. estaria ela pensando ainda naquele desenho esponjoso de vida não fosse a própria, interrompida assim, abruptamente.
ia mudar-se.
sentia náuseas pelo novo que fatalmente estava em seu caminho. exato como uma cigana velha previra em uma multifeira sobre acasos.
sabe como quando passa um carro por sobre um corpo magro pobre e triste...? assim.
porque só a alimentaram com mazelas em pequena, ela não concebia chamas azuis ou qualquer outra variedade no preto.
ou ainda um tom a mais na voz que lhe caísse bem e fosse macio, alegre por poupar-lhe diafanamente da sua precária, mas nunca sem graça devassa ou pudica vida.
ela ainda tinha seus próprios pássaros e com eles voava sempre aonde quisesse ver. os olhos estavam avariados, é bem verdade. culpa das tais cores distintas que sombrearam sua vida, mas não ceifaram a sua interna extensa medonha, e por que não, lúdica visão de mundo.
o único homem que amou - sabe-se que fora amor - falecera de propósito vítima do egoísmo mais antigo na humanidade - amara tanto a ele e só a ele mesmo - que nunca notou a pálida existência delazinha.
agora que completara quarenta e alguns anos com todos aqueles incríveis cardápios de dia-a-dia lacrimejados ano após ano, faria o que bem quisesse como sempre quis.
não saberia dizer ainda para onde ou com quem e não se quebraria com porquês.
estava pronta há muito com toda aquela vidazinha bem distribuída em pequenas e desengonçadas malas.
finalmente faria uso irrestrito dos melhores sorrisos colecionados ao longo de reveillons desde 1980.
para entender-se com qualquer brecha de vazio fantasiou-se outra vez de mulher sensual, aquele tipo que planejava ser, reunindo o máximo da alma levada àquele corpo pequeno, magricelo e endurecido pelo tempo,
desafiando-se a ficar muito sexy no seu único melhor vestido de lycra estampadinho pago em prestações nada suaves.
em meia hora embarcaria em um ônibus por 36 horas, para a cidade dos sonhos.
nunca mais seria um esse número ôco transeunte e infeliz.
que venha a cidade e uma nova ela.
totalmente gauche é a vida.

[e cada um a seu modo, temo o dito.]

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ele


ele me borda.

se assombra com o que eu sonho
como se sonhar não fosse dele.

ama toda minha conversa
me inspira lantejoula,
miçanga, fita, babado
e claro, fuxico.

eu vivo só pra contrariar o gosto dele.
pra adulterar o cheiro dele.
pra enganar seu paladar.

pra ele eu solto cabelo
alças
laços
e desfilo.

por ele eu corro mais de muitos quilômetros
pra chegar desarvorada,
atrasada,
sem sangue no rosto safado,
descalça
cheia de vida
e nua.

o que amo está nele
e a maioria já tocou,
viu, sentiu, percebeu.

esse homem tem a alma misturada.
coisa meio vintage,
retrô, vanguarda,
sei lá.

como eu,
está entregue às buscas.
com toda a carga que transporta a alma
de quem é mix e ainda precisa ser sério,
profissional, único.


Loucos são seres Lourenços.

[porque nunca é nada, tudo jamais será
um vão.]

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Declaração número três mil e mais uns, sob chuva

eu amo pouco
vôo baixo
sem confusão.

não acredito em coisas escritas.

eu acredito assim:
quando leio
o que você diz.

e que você crê
no que vê em mim...
ela olhando para ele quase invisível

[adoro esse nosso silêncio]

sobre séries

1. da série "por que não vou assim?"

um passo só pode levar muito mais tempo que a caminhada inteira.
tudo é questão de entender-se com os pés.
outras vezes, com os saltos dos sapatos que criam caso.
e na maioria delas, a coisa toda
é com a gente mesmo.


2.
da série "caminhos que desinvento without support of the National Geographic ou Val Freitas, pela madrugada sonâmbula, vagando."
[sua opinião por favor]

eu?
eu aposto no absurdo!
[ trust me ]


3. da série "muito, quase tudo eu já sei, obrigado."

eu acredito
indefinidamente
até quando duvido
muito
com força
de toda
essa minha fé.

creio ainda
que por isto
resisto


4. da série "o amor todo feito em rosa pra mim, não me cabe"

porque o tal de amor é mesmo assim.
bem simplesinho.
sem frescura.
e muito,
mas muito rápido.

passa que você nem vê.
[tchau]


5.
da série "falando, falando, com paredes"

ah esse sol que só grandes
nomes
seres
momentos
saudades
nos trazem
meio de vanguarda
meio sem medo
e sobre nada
nada
a gente cresce
vai ouvindo histórias
e acaba descreditando
o amor

é.
é só.
isso mesmo.


6. da série "minhas coisas & Frida"

Eu estou em movimento.
Se entende o que isto significa,
compreende então meu passo,
minha pressa,
essa minha alma corrida.


7.
da série "tá , eu entendo sim"

eu aceito é tudo o que vem de você.
a pressa
a mudança
o garrancho
o rabisco
o sonho duradouro
e até o tolo poema que aceitar corromper
tua música incessante
sempre inacabada
meio sem sinfonia mesmo.

porque entendo brilhantes,
compreendo alguns segredos.
e há mesmo
essa verdadeira urgência,
uma nossa soberana essência...
M U D A R.


8. da série "qualquer coisa que lhe diga..."

os tons de cinza trazem equilíbrio, você sabe.
[sabe, não sabe?]
a partir de cada um deles,
compreendemos as intenções do azul, do vermelho, do laranja, do preto, do branco, dos tons claros, dos tons fortes, precisos, os exóticos...
[por que estou falando isto mesmo...? lembra...?]



Para o lado de cá eu sempre pulo. e se fujo, mordo.

eu preciso de uma cor mansa.

alguém a viu nascer.
disseram-me que pelas bandas de lá
mais perto do continente
quem sabe seguindo a esmo
como quem benze lua

essa tal cor mansa...
que cor salvou e tem?

não,
não me tragam qualquer cor.
precisa ser esta:
mansa
recém nascida
pode vir obsoleta
redonda
quadrada
estranha,
eu não ligo!

eu só preciso amansar.
dizem que essa cor faz milagres.
alguém a viu nascer?

da série Cores Mordidas

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Quase Tudo

eu sei que o mundo
vasto mundo
já nos dizia raimundo
é tão intenso
que caberia na palma de nossas sonhadas,
espantadas,
acanhadas mãos.

no entanto
eu,
que sou sempre a mesma folha ao vento
seja calor, venha tempestade
prefiro pensar que um pensamento
apenas um deles,
dos nossos,
vale a ida
com a vida em verso,
e mais uma volta
por esse mundo inteiro
que nos dou.

e quase tudo
que se pareça
s a u d a d e
abraça a tua mais serena lembrança...
e
viver nunca foi tão fácil,
nem tão fúcsia.
viver, todos nós, para o que nos for destinado ver.

folhas raras
todos somos cada um
e entre nós,
ainda nascerão muitos.

e depois que cada um passar por nós,
serão estes,
os mais guerreiros
os mais atentos e os mais aflitos,
os nus, totalmente despidos
que herdarão nossos olhos
e com sorte,
com toda boa sorte,
nosso indefectível modo de amar
TANTO
TUDO
SEMPRE.

*para Jorje Elias Fecuri Neto*

Da série Amigos Que Não Prescrevem Jamais...